A mudança precisa de tempo

Vivemos tempos acelerados. Tudo muda e muda depressa. E sabemos isso, creio, porque volta não volta vamos devolvendo ao outro, ou até a nós mesmos, que “o tempo passa a correr!” Ou “o tempo voa !”.
A verdade é que os dias passam como se o tempo se tivesse tornado mais curto… como se a vida corresse à nossa frente. E, talvez no meio desta correria e de nos sentirmos sempre atrás do tempo, queiramos apressar coisas e nos esqueçamos de uma verdade: a mudança precisa de tempo.

Sabemos que a mudança é inevitável. Para Heidegger, mudar é existir! Mudar não é abandonar o que fomos, mas reinterpretar o que fomos. A mudança acontece no corpo, nas relações, no trabalho, nas estações do ano e até nas ideias que temos sobre nós próprios. Desde sempre, o ser humano vive em transformação e, ainda assim, cada nova mudança parece surpreender-nos. É como se, apesar de sabermos que o mundo gira, o movimento nos desequilibrasse sempre um pouco.

Antes de uma mudança acontecer, há sempre um tempo meio estranho — uma espécie de intervalo. É o momento em que sentimos que algo está para vir, mas ainda não sabemos bem o quê. Mistura-se ansiedade e esperança, medo e curiosidade. Queremos avançar, mas também não queremos largar o que foi. É nesse “meiotempo” que se revela a dimensão mais humana do tempo: o tempo de integrar, o tempo de dar sentido ao que muda.

Vivemos numa época em que a pressa se tornou demasiado valorizada. Parece que acreditamos que mudar depressa é sinal de força, e que demorar é sinal de fraqueza. Mas e o contrário ? Há mudanças que só florescem quando o tempo é respeitado. Como lembra Byung-Chul Han, no seu livro “O Aroma do Tempo”, vivemos um “tempo sem aroma”, onde tudo acontece, mas pouco se saboreia. Talvez um dos desafios deva ser voltar a saborear.

Na Coramente, também vivemos uma mudança. Este espaço, feito de encontros e histórias, transformou-se. O antes continuará sempre a fazer parte do que somos, porque o que existe hoje nasceu dessa mesma história, e das pessoas que a tornaram real…

A mudança precisa de tempo! Mudar é viver. Mas viver verdadeiramente é permitir que o tempo faça o seu trabalho, o de transformar o novo em familiar, o desconhecido em parte de nós. 

Que possamos, então, abraçar as mudanças da nossa vida, com delicadeza e paciência. Que saibamos respeitar o tempo que elas precisam, sem a pressa de querer alterar o que só o tempo pode amadurecer.

Com carinho,

Sara

Coramente

Um espaço que muda, cresce e se transforma — como todos nós. E Onde entre, o antes e o agora, permanece o mesmo propósito: cuidar da mente, do tempo e da vida com presença.