A liberdade de J.L.Moreno

Quando em 1921 Jacob Moreno (médico, psicólogo, filósofo, dramaturgo…) funda o Teatro Vienense da Espontaneidade ainda muito haveria por descobrir acerca da relação entre saúde, corporeidade, espontaneidade e felicidade! O XVI Congresso da Sociedade Portuguesa de Psicodrama decorre neste fim de semana em Baião e traz consigo a riqueza deste século passado nas histórias que nos são cautelosamente devolvidas pelos seus “discípulos” mais antigos_Roma Torres e José Teixeira de Sousa, aconchegadas por companheiros de viagem, José Pio Abreu, Soeiro (nas palavras de Teixeira de Sousa), Gabriela Moita, entre tantos outros que nos têm devolvido a espontaneidade de nos reconectarmos no olhar do outro. Arrisquei escrever discípulos, deixando reescrita a história que identifica (talvez) o Ponto 1 da vida de Moreno, que pelos cinco anos de idade vivencia a brincadeira de ser deus! Conta a história que nos apresenta este importante pioneiro do estudo da terapia em grupo (hoje validado cientificamente) que nessa brincadeira Moreno fazia-se jogar o papel de ser deus no meio de anjos (outras crianças) e, estando no alto do “trono de deus” – um monte de cadeiras que se empilhavam até ao Céu - é-lhe pedido por um dos “anjos” (ego) que voe. Ele, tentando atender ao desejo, saltou do alto resultando a inevitável queda num chão duro, impiedoso e uma fratura no braço direito.

Quando crescemos a vida perde as cores que as crianças pintam com o arco-íris e esta deixa de ser a nossa cor favorita (M.Q._2024). Há, inclusive, aqueles a quem roubaram o arco-íris durante este tempo em que se cria a partir do “e se…” e do “eu sou…” e ainda do “tu és…”. Fazer de conta! A possibilidade da criança reorganizar o que a atormenta e que hoje traduzimos no acompanhamento ludoterapêutico como o espelho do mundo interno da criança constitui uma oportunidade para esta ensaiar sentimentos, medos, angústias e papéis através do brincar, tal como numa terapia com adultos estes ensaiam falando.

Os Congressos de Psicodrama são contos soltos, onde nos encontramos e recordamos que já vimos aquela cara, já cruzamos aquela história, já dançámos com aquele par e já acautelamos as lágrimas do nosso par. É uma roda, um círculo, um espaço onde a névoa se dissipa, tomamos conta de uma parte inconsciente do que somos enquanto pessoa, enquanto pessoa em relação, a mesma relação que conta a história das últimas 3 postagens do nosso Blog. Somos estrelas, num sistema solar único, pautada pela diversidade e pela harmonia que deste espaço saudável entre mim e outro. Como nos deixa Teixeira de Sousa na cerimónia de abertura, “Para eu ser... Sou como Pessoa... Sou Heterónimos! E Neles, sou o outro!”

Moreno, sempre com humor à mistura, relacionou a sua ideia de espontaneidade como centelha divina que existe em cada um de nós. Deixou o legado do Psicodrama Terapêutico, um modelo de psicoterapia reconhecido por toda a Europa e América Latina como um modelo de intervenção altamente eficaz, feito de encontros. Dificilmente verão cadeiras organizadas em fileiras… Mas por aqui estaremos, este fim de semana, a conquistar o espaço, a alegria, a vida renascida, o ENCONTRO de MORENO! Jacob Levy Moreno (1889 - 1974) deixou-nos um livro aberto para reescrevermos! Saibamos reconhecê-lo neste encontro!

Encontro de dois

Mais importante que a ciência, é o que ela produz

Uma resposta provoca uma centena de perguntas

Mais importante do que a poesia, é o que ela produz

Um poema invoca uma centena de atos heroicos.

Mais importante do que o reconhecimento, é o que ele produz dor e culpa.

Mais importante do que a procriação é a criança.

Mais importante do que a evolução da criança é a evolução do criador

Em lugar dos passos imperiais, o imperador

Em lugar dos passos criativos, o criador

Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face

                                                                        e quando você estiver perto arrancarei seus olhos

                                                                         e os colocarei no lugar dos meus

                                                                       arrancarei meus olhos

                                                                          e os colocarei no lugar dos seus

                                                                         então verei você com seus olhos

                                                                          e você me verá com meus olhos

                                                                         Então até a coisa mais comum servirá ao silêncio e

                                                                        nosso encontro permanecerá meta sem cadeias

                                                                        Um lugar indeterminado, num tempo indeterminado

                                                        Uma palavra indeterminada para um homem indeterminado

J.L Moreno